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A GRAVIDEZ É UM FENÔMENO BIOPSICOSSOCIAL, EXPLICA ESPECIALISTA

 

O artigo Maternidade Idealizada X Maternidade Real, traz importantes reflexões sobre a maternidade que a mulher idealiza e o momento em que ser mãe não é assim tão mágico quanto se imaginou. Noites sem dormir, as choradeiras da criança (mais comuns nos três primeiros meses), tempo escasso para cuidar de si, sem mencionar os medos, angústias, dúvidas, que em muitos casos, a mulher vive para si, sem compartilhar com ninguém.

A psicóloga Aline Aguiar, explica que quando a mulher entra em contato com a gestação, entra em contato com a maternidade e muitas transformações psíquicas vão acontecendo e que toda transformação começa pelo simples fato de ser mulher, já que a maioria das mulheres já tem em si a certeza de que um dia serão mães, assim como quando eram crianças e ganhavam bonecas e as tratavam como filha. Esses pequenos detalhes tão presentes no instintivo das mulheres não dão espaço para questionamentos, tratam-se de comportamentos que fazem parte de uma construção social, assim como depois de questionar, se tem a realidade de que a maternidade não precisa acontecer em todas as mulheres. 

A especialista relata que quando tinha dezoito anos de idade engravidou da primeira filha e quatro anos depois, deu à luz a uma outra menina: 

 

“Eram momentos de dores e delícias. Vivenciar tudo isso muito jovem me fez ter contato com um momento de muita solidão, muitas vezes por não ter como partilhar sobre determinados assuntos. Às vezes as pessoas esperam que você esteja feliz, completamente realizada com a maternidade, mas acordar de madrugada não é fácil, resolver a cólica do bebê não é fácil, ter um tempo até para tomar banho pode ser muito difícil.”

 

E foi a partir das experiências pessoais que a psicóloga decidiu estudar sobre maternidade para que pudesse trabalhar em prol do auxílio a outras mulheres.

 

 CONSTRUÇÃO DO PAPEL MATERNO: TERMOS BIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS

 

De acordo com o estudo A construção da personagem mãe: considerações teóricas sobre identidade e papel materno, existe uma imagem da maternidade aderida na mentalidade dos indivíduos do grupo social em geral e essa imagem também existe na mulher que vivencia o processo gravídico - pueperal. 

A especialista explica que a gravidez é como um fenômeno biopsicossocial e esclarece que o bio está relacionado ao corpo, o psico tem a ver com psicológico, que engloba a psique e o social se refere ao fato de se estar inserido num contexto sociocultural, vivendo num determinado momento histórico.

A psicóloga acrescenta que o que afeta o corpo, afeta os sentimentos, os pensamentos e que o momento sociocultural também afeta as nossas vidas, assim como influencia o físico e o psicológico, como um emaranhado em que as pessoas não conseguem separar bem o que é o quê:

 

“A gravidez traz inúmeras transformações ao corpo e ao psicológico que tem que entrar nesse papel materno. O que é ser mãe hoje? Essa pergunta só pode ser respondida HOJE, há cem anos era respondida de um jeito e daqui a cem anos será diferente.”

 

A pesquisa Mulher, mãe e profissional: uma breve discussão sobre o reflexo dessas escolhas no modo de ser mulher, destaca que se forem resgatadas as memórias de um contexto histórico, pode-se reconhecer a mulher como responsável pela origem à vida, que protege, cuida e educa, estando submetida ao outro a quem era dada a permissão de saber e decidir sobre questões pessoais e de ordem individual da mulher.

A psicóloga destaca que a forma como se exercerá o papel materno hoje está circunscrita num contexto sociocultural que vai afetar nossas reações fisiológicas. Por exemplo, “se sentir chateada, culpada, a sensação de não conseguir estar sendo uma boa mãe dentro do que a sociedade diz”, isso pode levar à ansiedade, à dor de estômago e obviamente pode vir a afetar as emoções.

 

AS EMOÇÕES QUE PASSAM DA MÃE PARA O BEBÊ

 

A especialista esclarece que na gravidez, quando se tem uma emoção, químicas são liberadas no organismo, os hormônios sejam do estresse, do relaxamento, do prazer, isso é interpretado pela mente e correpetido pelo corpo por meio da liberação dos hormônios. Se há o estresse, a cortisona ou a adrenalina são liberadas, em momento de prazer e relaxamento, os hormônios como serotonina, ocitocina, são liberados, e o bebê vai percebendo essas alterações: 

 

“A percepção do bebê não é no sentido psíquico, mas de acordo com os hormônios que entram em contato com o nosso organismo, o bebê também vai perceber, em um caso em que a mulher está agitada liberando mais cortisol e adrenalina, é natural que o bebê mexa mais.”

 

A psicóloga ressalta que a princípio não há problema algum nessas alterações já que na vida é natural que em um único dia existam variações de humor, assim como a gestação não impede a mulher de estar em contato com diversos tipos de emoção, pelo contrário. O único problema é quando se instaura uma situação psíquica de depressão em que a mulher deixa de se alimentar, de ir ao obstetra e passa a apresentar um humor muito deprimido. 

 

“A gravidez é algo transitório, o organismo passa por transformações, depois dos nove meses, o corpo vai voltando ao funcionamento normal, algumas mulheres lidam com essa “crise” na gestação de maneira mais tranquila que outras. A mulher tem o trabalho físico de gestar, e também precisa lidar com todas as transformações físicas e emocionais”, esclarece.

 

O importante é saber que se a sensação da maternidade não é de completude, isso não quer dizer que algo está errado, é perfeitamente natural que a mulher venha a se sentir mais fragilizada e até demonstre se sentir frustrada. Ter apoio de pessoas próximas e queridas é essencial para superar essa fase.

 

 

 

 Aline Melo de Aguiar - Psicóloga; coordenadora do espaço AMA; doutora em Psicologia Social (UERJ) – foco em desenvolvimento infantil, gestação e parto; mestre em Psicologia Social (UERJ); especialista em Atenção Integral à Saúde Materno-Infantil (UFRJ); terapeuta cognitivo-comportamental; facilitadora de grupos reflexivos de gênero, pelo Instituto Noos; especialista em intervenções precoces pela ABENEPI e terapeuta de família pelo Instituto Noos (em formação).

 

Fontes

CNGRAVIDAS. Congresso Nacional para Grávidas

Maternidade Idealizada X Maternidade Real. Indiretas Maternas: indiretasmaternas.com.br/maternidade-idealizada-x-maternidade-real

A construção da personagem mãe: considerações teóricas sobre identidade e papel materno. Realizado por: Amélia Fumiko Kimura: www.scielo.br/pdf/reeusp/v31n2/v31n2a13.pdf

Mulher, mãe e profissional: uma breve discussão sobre o reflexo dessas escolhas no modo de ser mulher. Realizado por: Juliana Nunes de Barros; Margarete Maria da Silva Rocha: www.unilestemg.br/kaleidoscopio/artigos/volume2/MULHE_MAE_E_PROFISSIONAL_UMA_BREVE_DISCUSSAO_SOBRE_O_REFLEXO_DESSAS_ESCOLHAS_NO_MODO_DE_SER.pdf