A QUESTÃO DO AFETO É MUITO IMPORTANTE NO PROCESSO DE MUDANÇA DE VIDA
A chef Juliana Malhardes, especialista na culinária viva, começou na trajetória como educadora em alimentação viva há 10 anos. A princípio ela queria ensinar estritamente as pessoas a comerem alimentos vivos e crus, que era o que ela estava experimentando e que a havia curado de problemas de saúde dos quais sofria há anos como bronquite, dor de cabeça, sinusite, dentre outros problemas que acreditava que eram defeitos do corpo, mas que na verdade eram problemas criados ao longo da vida devido à má alimentação:
“É da nossa responsabilidade fazer essas escolhas. Então criei muito entusiasmada, um programa de personal que dava suporte individual às pessoas através de aulas particulares, para que elas aprendessem a comer comida viva 100%, tudo sem cozimento, o crudivorismo estrito, onde a temperatura não poderia passar da temperatura das mãos, nada era cozido.”
Foi aí que a especialista percebeu que o tempo de transição das pessoas para comerem alimentos crus 100% variava, e que nem todo mundo tinha o que é intitulado de recursos afetivos, para conseguirem essa mudança de estilo de vida:
“Nós somos seres sociais, compartilhamos afeto por meio dos alimentos. E a forma que a gente tem de alimentar é a forma que a gente tem de dar e de receber amor. Alimentar o outro é expressão de amor. Então culturalmente a gente desenvolveu o costume de criar coisas, formas alimentares que estão associadas a sabores, sons, aromas, texturas, afetos, pessoas, comportamentos, lugares e são coisas específicas, exemplo: bolinho da mamãe, o pãozinho da tia...”
A educadora em alimentação viva acrescenta que há comidas que remetem a lembranças de pessoas, eventos e geralmente reúnem importantes significados como o afeto, que vai para muito além do ato de comer.
O artigo A transição para a alimentação viva destaca a questão do afeto que vem do contato com a mãe, do relacionamento com amigos, da participação em festas familiares, dos bolos de aniversário e de casamento... Esse afeto em torno do ato da alimentação, segundo a reflexão que o artigo propõe, faz com que a pessoa passe por cima do que no íntimo sabe que faz bem à saúde, como se assim, se tornasse, muda, cega e surda. Outro ponto importante destacado pelo artigo é o de que mesmo depois das conquistas iniciais por conta da adoção de uma dieta viva, as pessoas sempre poderão se deparar com festas, momentos em que alimentos cozidos, processados, entre outros, serão apresentados, e resistir a esses alimentos será uma questão de consciência e até mesmo de lembrança dos benefícios à saúde já conquistados.
A chef especialista em alimentação viva, explica que ao longo dos anos, o programa que criou para que as pessoas adotem a alimentação viva, foi sendo aperfeiçoado, para que as pessoas possam incluir os alimentos de forma gradual, crescente:
“Ensino os iniciantes a germinar as sementes e misturar na sua comida cotidiana de uma maneira gostosa, depois vou ensinando técnicas, que vão ficando mais elaboradas, e aí a pessoa já será capaz de fazer comidas mais interessantes, de uma forma natural, gradual, tranquila, não da noite para o dia.”
O artigo A transição para uma dieta de alimentos crus, sugere que o ideal seria realizar uma transição lenta, ainda mais se o estilo de vida anterior não era vegano, a ideia é que uma ou duas refeições inicialmente sejam exclusivamente cruas.
A educadora em alimentação viva conta que quando as pessoas tentavam mudar a dieta da noite para o dia ficavam muito ansiosas, porque não sabiam o que comer e ficavam com medo da próxima refeição porque precisavam se esquivar do alimento cozido, tinham que cozinhar para a família, sentiam fome e aquele processo de resistir ao alimento cozido ia gerando muito estresse.
“Aí entendi que o problema não era a falta de receita, não era a forma de ensinar do curso, entendi que tínhamos receitas, cardápios semanais, havia aulas individuais de demonstração, mas tinha uma outra questão, era uma questão afetiva, então passei a avaliar, a me avaliar e a avaliar como eu estava ensinando de uma maneira diferente, eu entendi que a coisa mais difícil para quem quer melhorar a sua dieta é deixar de comer com a família”, relata.
A chef acrescenta que uma mãe de família prefere deixar os filhos se alimentarem do que não fará bem, por uma questão de afeto, assim como é difícil para alguém comer uma comida exclusivamente boa para si, sabendo que o restante da família não adere à mesma prática.
A especialista relata que aprendeu com a própria vida e com a família e que desistiu de uma casa 100% radical, 100% comida viva, isso porque quando começou na alimentação viva queria que todos comessem alimentos vivos, assim como não havia outros alimentos, além dos alimentos naturais em sua casa:
“Hoje importa muito mais que a casa que eu convivo, tenha comida que as pessoas que eu amo gostam de comer, mesmo que eu compre só para aquela ocasião. E eu sinto que elas se sentem muito mais acolhidas através dos alimentos, aqui em casa combinamos que os hábitos comuns devem estar baseados em alimentos saudáveis, mas cada um na sua individualidade e escolha tem permissão para comprar as bobagens que quiser, e assim a gente vai combinando.”
Se alimentar de forma natural, mudar os maus hábitos cultivados há anos, não precisa ser um processo radical, o importante é dar um passo de cada vez e cada passo baseado em consciência concreta sobre a própria saúde e estilo de vida adotado.
Juliana Malhardes – Chef especialista na culinária viva há 10 anos. Educadora em Alimentação Viva, formada pelo Terapia/Fiocruz
Culinária Viva – Por Juliana Malhardes: www.culinariaviva.com
Fanpage: www.facebook.com/CulinariaViva
Fontes
A transição para a alimentação viva. Sou vegetariano.com: souvegetariano.com/materias/colunistas-materias/a-transicao-para-a-alimentacao-viva
Transitioning To a Raw Food Diet (A transição para uma dieta de alimentos crus). Health Inspirations: www.healthinspirations.com/transition.php