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Todo mundo já precisou de um mergulho no mar ou uma caminhada no parque para repor as energias após dias estressantes. Não é por acaso que tanta gente busca lugares onde possa estar mais em contato com a natureza no período de férias. Estudos comprovam que a proximidade com terra, árvores e plantas, além do ar puro faz bem ao corpo e à alma.

Por outro lado, a vida moderna modificou a relação do homem com a natureza. Quem vive em grandes centros urbanos, dificilmente dispõe de tempo para relaxar embaixo de uma árvore, plantar ou simplesmente apreciar a beleza da natureza. E isso não é diferente com as crianças. Elas estão transitando do natural para o virtual. Trocam as brincadeiras de quintal pelo ambiente fechado de sua casa. Os jogos na rua perderam para tablets e videogames.

A expressão "transtorno de déficit de natureza", surgiu pela primeira vez 2005 no livro Last Child in the Woods (em tradução livre "A última criança na floresta") - sem publicação no Brasil - do jornalista e pesquisador norte-americano Richard Louv. A obra explora o que acontece, aos indivíduos e à sociedade, quando as novas gerações param de brincar em meio à natureza.  Segundo Louv, basta uma olhada rápida no cotidiano das pessoas para percebermos que atualmente nas grandes e médias cidades o contato com a natureza vem drasticamente diminuindo

Para o psicólogo Hailton Yagiu, o transtorno de déficit de natureza, apesar de não fazer parte de nenhuma das classificações psiquiátricas oficialmente reconhecidas, é identificado pelos especialistas como sendo causa, devido ao afastamento da natureza, de males como a ansiedade, hiperatividade, depressão, déficit de atenção e obesidade infantil entre outras.

O especialista alerta que é importante ter muita cautela para não estabelecermos aqui uma relação direta entre causas e efeitos, pois esta é ainda uma área recente de pesquisas, embora seja perfeitamente inteligível que áreas verdes são benéficas para fortalecer a saúde como um todo, além de favorecer as relações sociais.

“Segundo Louv, o desenvolver das tecnologias de entretenimento, gradualmente o espaço do brincar passou a ser o lugar onde existem tomadas, ou seja, dentro das casas. Para o pediatra Daniel Becker esta é uma geração consumidora de dados e hiperestimulada, o que acaba por produzir crianças que por não terem a oportunidade de exercitar o foco, acabam crescendo com esta capacidade mal desenvolvida e consequentemente prejudicada”.

De acordo com a  ecopsicologia (uma abordagem transdisciplinar sobre as relações entre o ser humano e a natureza), caminhar num bosque, num parque ou na mata, seriam as melhores formas de desintoxicação do contato com o mundo digital. “Estudos recentes feitos na Holanda, revelaram que as pessoas que moram próximas às áreas verdes apresentavam um índice menor de doenças pulmonares, cardiovasculares, transtornos de ansiedade, depressão e até diabetes se comparadas às pessoas que não moram”, complementa o psicólogo.

“Outro ponto a se destacar é que a falta de contato por um largo período com a natureza acaba por agilizar o processo de envelhecimento celular, pois a natureza tem o poder de relaxar e combater desta forma o estresse, e este é um dos fatores de envelhecimento celular”.

De acordo com o psicólogo, a criança que cresce em ambiente virtual e urbano, sem o contato com a natureza, pode ter o seu desenvolvimento prejudicado, pois a atual separação da natureza leva as pessoas, incluindo crianças e adultos, a terem uma vida excessivamente programada e cheia de atividades e isto a curto e médio prazo tem mostrado as consequências fazendo aparecer os distúrbios físicos e mentais em larga escala.

Richard Louv acredita que se a “terapia da natureza” tem reduzido os sintomas de TDHA, então este transtorno pode estar sendo causado pela falta de contato com ela. Segundo este pesquisador ‘privar as pessoas de natureza pode ser equivalente a privá-las de oxigênio’. Yagiu alerta os males causados pela falta de contato com a natureza estão sendo descobertos, sendo, portanto, muito novos, mas pelas pesquisas já realizadas, podem-se incluir aqui os problemas cognitivos, principalmente na esfera da atenção.

“Para ilustrar cito duas pesquisas da Universidade Cornell em Nova York, uma que mostrou que crianças com mais natureza perto de casa têm menos distúrbios de comportamento, menos ansiedade e depressão e maior autoestima e outra da pesquisadora, professora e psicóloga ambiental Nancy Wells que mostrou em seus estudos que do ponto de vista psicológico os acontecimentos que causam estresse prejudicam menos as crianças que vivem em locais onde tem mais contato com a natureza, do que as crianças que vivem em lugares onde tem pouco contato. Segundo ela o contato com a natureza, por estimular a capacidade de desenvolver a atenção das crianças, favorece a capacidade de pensar e de se concentrar, contribuindo para que elas possam lidar melhor com o estresse".

Todos nós sabemos que não é fácil ceder um espaço de nosso dia para o verde, mas algumas mudanças simples podem contribuir. “Segundo estudiosos da Ecopsicologia, a orientação é trazer a natureza para mais perto, seja por um jardim ou simplesmente um aquário dentro de casa, ou de ir em busca dela, viajando esporadicamente para lugares onde se possa ter contato com a natureza ou caminhando em busca de alguma área que tenha elementos da natureza como parques ou áreas verdes, uma dose diária de 15 minutos de verde já seria um bom princípio”, recomenda o psicólogo.

Hailton Yagiu

Psicólogo, especialista em psicologia clínica

Contato: https://www.psicologiahailtonyagiu.psc.br

 

Fontes:

https://www.psicologiahailtonyagiu.psc.br/materias/ponto-vista/149-reconectar-com-a-natureza-como-recurso-terapeutico-contra-o-transtorno-por-deficit-de-natureza

https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2016/06/estamos-sofrendo-o-transtorno-de-deficit-de-natureza.

htmlhttps://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/pensar-psi/verde-para-combater-depressao-e-ansiedade/